Espelhos ditadores

É o fim do túnel, literalmente. Entre tantas voltas, o labirinto finalmente se fechou. Você vai, você volta, e então, você muda de ideia e no desespero de encontrar uma saída, acaba por se perder. Começa a correr, desesperado e apressadamente, passando pelo mundo em contornos distintos, criaturas estranhas, e a sua vida passa como vultos perto de você, refletindo o esboço de uma alma que clama por piedade. Você sabe bem que se parar, você se perde. Então, no acaso desse cotidiano você encontra uma parede. Há saída? Não, não há nada que se possa fazer. Você foi cercado, queridinho. Mas, por quê? Você que tanto fugiu, termina com uma fuga mal feita. Entre tudo que te prende no chão e não te deixa fugir, o pior inimigo, sem dúvidas, é o espelho. É reluzente, verdadeiro, com verdades que não te deixam, nem ao menos, mentir. Inimigo cruel, que te faz quase que obrigatoriamente, enxergar o que estava embaçado há um tempo atrás. Já que não há uma saída exata, olhe bem fundo nos seus olhos. Uma lágrima cai, impossível se controlar. Com o que você se parece? Essa mistura, totalmente embolada, sem começo nem fim. Inseguro nesse país de espelhos embaçados.
Mas não tem fim, nunca tem um fim. Você será perseguido até a morte, por centenas de inimigos que te cercaram. Agora, sem trégua. Na rua, na casa, no quarto, na esquina. Todo lugar. Você é alto e forte demais para isso tudo? Sempre foi superior, mas nesse jogo refletido não é como num sonho. Uma hora, um dia, você cairá como um pássaro fraco que não consegue bater as asas e voar. Esse espelho que te cerca continua a te vigiar com olhos famintos. Ouvindo risos incontidos de pessoas distantes; você está atormentado agora, garoto. O que fazer? Não tente contornar a situação, não mais! Afinal, aonde é que você vai se esconder agora que já não existem mais saídas? Atrás de seus próprios olhos jaz uma alma ferida, corroída, destruída e isso tudo, por causa de você mesmo.