Refletem entre linhas

Na quase vaga sala de espelhos, reflete-se de modo embaçado paredes e paredes. Contornos vagos de velhas tintas descascadas e descoloridas com o tempo. Realizam o momentâneo encontro face a face, onde cada um sabe de si. Não restam nada, só amores perdidos inundados por finos pingos de chuva que insistem em marcar o inverno que me faz passar de forma intensa e solitária. Sem vida. Mas, se torna onipresente tamanho sentimento de culpa porque é sereno e longo, para mim, enquanto deixo durar eterno amor. Comparações são constantemente feitas quando se tem perfeição. Esse é o meu sonho, em alguma sala de espelhos, com sombras vagas e um desenho imperfeito de sua caricatura traçada nos mais baixos contornos do exterior trocado. Espelhos entre espelhos, e seu caminho continua pregado em minha vida; nos mesmos trilhos de um dia qualquer, por aí. Porém, cala-se no seu caminho inverso, para não deixar rastros de uma lembrança vazia, porque da sua palavra escorrem um alegre alguém. Você sabe que eu poderia ter sido alguém por toda minha vida, mas os espelhos que nada servem não refletem minha memória que eu gostaria de relembrar, por um instante, apenas. Só não quero ver o que o espelho pode me revelar. Fico assim, em desenhos noturnos, em casas antigas e em pensamentos sóbrios. Os espelhos que há muito existiam, agora podem refletir sem pesar as paredes que ergui. Não mais o modo embaçado de como eu não me via com clareza. Eu encontrei meu anjo agora. Nem mesmo os espelhos podem demonstrar a vida de mistérios que eu levava. Eles apenas guardam aquilo que inexiste.